Em qual realidade queremos viver?
Hoje dirigindo meu carro vindo
para o trabalho, ouvi diversas notícias no rádio, e me pus a refletir, o quanto
essa nossa realidade cotidiana está distorcida, ouvimos falar de cifras astronômicas
sendo usadas em estádios de futebol, em desfiles de carnaval, e tantas outras
coisas, que em si podem não ser totalmente más, mas isso se torna imoral quando
confrontamos com outras notícias que dão conta de pessoas sendo mortas por
alguns trocados, ou morrendo em hospitais pelo simples fato de não conseguirem
ser atendidas, mesmo estando dentro de desses hospitais, devidamente instaladas
em macas nos corredores, em meio a toda a exposição que se espera de um
hospital, num mix de doentes leves, com acidentados graves, doentes crônicos e
até terminais. Ai me veio à mente a possibilidade de estarmos doentes. Sim,
muito doentes, não com uma gripe contagiosa ou com uma doença infecciosa, mas
doentes na essência, doentes como comunidade, onde aquilo que não é normal
passa a fazer parte de nosso dia a dia sem chocar, porque pelo excesso de erros
fomos cauterizados, e criamos uma realidade paralela, não virtual, mas real,
onde separamos nosso interesse egoísta de afastarmos de nós aquilo que é vil, e
assistirmos com cara de piedade aquilo que se passa à distância. Mas ai me
lembrei das palavras de uma senhora que viu uma moça da sua comunidade ser
brutalmente estuprada e morta a alguns metros de sua porta, e então ela viu de
perto essa dura realidade paralela, passar a ser não tão paralela assim, mas
praticamente bater à sua porta. Suas palavras foram: “uma coisa é ver essas
barbaridades pela tela da TV, outra é acontecer na porta de nossa casa”. Então
pergunto, quem está livre dessa realidade? Ela está a nossa porta, e cada vez
mais forte e evidente e um dia vai atingir a porta de cada um de nós.
Mas se essa indignação me
incomoda, o que dizer de quem idealizou tudo isso, que criou a perfeição que
ainda pode ser verificada sutilmente em pequenos detalhes dessa obra prima, ver
o quanto tudo isso se deteriorou, e descortinou o pior de cada célula dessa
construção primorosa.
Mas essa não é a pior parte da
destruição, essa é física e visível, assistimos e reconhecemos cada episódio
dela. A parte mais podre dessa deterioração é mais difícil de ser identificada,
mais resistente aos remédios ainda que em doses generosas, e quando impregna
traz a imagem de um parasita mudo, calado, silêncios, que até se esforça para
passar desapercebido, e aos poucos vai consumindo cada gota de energia vital
daquele a quem infecta!
Esse mal invisível, ataca as
pessoas com cegueira, destroem o estado de consciência saudável, e ainda pode
vir disfarçado de inteligência ou intelectualidade, suposta coerência social, e
o que é pior, sob o rótulo de evolução humana. Não entendo como as pessoas se
perderam tanto, trocaram a segurança das bons princípios, que já provaram ser
bons pela prática, e não pela tradição, trocaram a plenitude de viver em prol
da coletividade pela ignorância da teoria da luta da autossatisfação. Amor se tornou uma palavra tão mau usada que
já não se conhece o seu verdadeiro significado.
Quando olho pra tudo isso percebo
que não podemos realmente ter prazer de viver dessa forma, temos que almejar o
melhor, uma realidade livre de hipocrisia, maldade e egoísmo. Sei também que
pensando nessa vida, é uma ideologia utopista, mas se voltarmos para o criador
da perfeição, as coisas podem ter outro desfecho, e ai, podemos não sonhar, mas
esperar chegar um reino de paz e justiça, e é esse que eu almejo!
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